segunda-feira, 30 de junho de 2008

Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos p...

Véi,
Sinceramente, concordo com todas as suas preocupações. O ensino automatista e atomista ainda é uma realidade, que tentamos pouco a pouco mudar. Há bons profissionais levando uma nova postura às escolas, sobretudo às do interior. Estou começando a vivenciar essa mudança de atitude com os professores que estão sob minha responsabilidade na formação continuada dada pela UnB. Suas ponderações terão de causar reações em todos eles, que nos lêem também, pois estou publicando essas conversas sobre Educação no blog (http://www.dioneygomes.blogspot.com/ ). Espero que não se importe.
Confundir alfabetização com letra cursiva e, pior, exigir caligrafia é o cúmulo das atuais metas da Educação Pós-Freiriana!!! Temos de investir no bem-estar da criança na escola, com aulas criativas e voltadas para a Alfabetização e o Letramento (aqui sigo Magna Soares). Também não concordo com geração espontânea de conhecimento e muito menos com o típico professor-sabe-tudo. Deve haver um equilíbrio aí. Ofereça algo ao seu aluno, mas, principalmente, deixe ele compartilhar em sala o vasto conhecimento que já tem. É tão óbvio e tão fácil para mim, como professor, que ainda não entendi por que se reluta tanto em dar voz ao aluno!!!
Sobre a exigência de letra cursiva, estamos levantando dados reais. Te manteremos informado.
Obrigado pela bela discussão proporcionada. Volto a dizer que estou à disposição para ir à escola do Gustavo quando você quiser. Já será um bom treino para mim que, quando tiver filhos, morarei na escola por uma semana para ver como as coisas andam ou não andam! :D
Abração!
Dioney
----- Original Message -----
Sent: Monday, June 30, 2008 2:08 AM
Subject: Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos p...


Fala véi,

As coisas estão todas truncadas aqui. Fiz uma reclamação geral sobre o sistema de avaliação que o MEC usa devido ao impacto que isso gera na pressão sobre os professores. Isso tudo devido à reportagem que você me enviou, sobre a síndrome de burnout, uma reportagem bem clara!

As metas não são apenas da Provinha Brasil, mas também do IDEB. Há metas. Meta quer dizer objetivo, que precisa ser alcançado, pressão. Não precisa pensar muito pra entender o que significa meta. Essas metas infestaram o país desde os tempos de FHC. Depois do neoliberal, tudo passou a perseguir a eficiência. A eficiência máxima é algo perseguido na engenharia, e na burocracia do Estado! Weber fala muito disso. Ao contrário de Marx e Durkheim, Weber era muito pessimista. Sabia que a tecnocracia das organizações exige eficiência, estudo, competência dos funcionários. É o diploma que conta! Seu pessimismo se encontra no fato de que não via saída alguma para a sociedade moderna, ao contrário dos outros dois (precisaria de um lado político para isso). Talvez estivesse certo. Olha isso: "competências que a criança deve atingir nesse período, mas caso ela não tenha atingido o nível máximo, a escola deve trabalhar, com tranqüilidade". Com tranqüilidade é um eufemismo que a síndrome de burnout não conhece.

Ao criticar o sistema de provas, e acho que crianças não devem fazer provas, pois a educação de crianças não deve ser técnica e, sim, humanista, falei das metas (que eu sei que existem no IDEB, principalmente), porque cria-se uma cadeia de pressões que culminam no adoecimento dos professores e dos alunos, e de nada adianta as boas intenções dos entendidos do MEC, porque de boas intenções o inferno tá cheio, e falei sobre o problema da letra cursiva (letra, não letrinha, já que a letra das crianças é do mesmo tamanho, e muitas vezes maior, o que causa neuras no professor), algo que é, digamos, endêmico no DF. A neura não é minha, é dos professores do DF (e quiçá de outros estados). Quem tinha que conversar com todo o sistema educacional brasileiro era o MEC, não eu. Eu pago meus impostos. Todos os colégios acham importante por um motivo ou outro o diabo da letra cursiva. Imagina se Pero Vaz de Caminha visse a letra cursiva dos professores. Iria achar que são garranchos. Então, qual a letra cursiva mais bonita? Mas a professora (que vai estourar com burnout) falou que era cobrado na provinha brasil. Como eu adoro provas, já deu para perceber, juntei tudo num balaio só. E isto é correto, já que provas para crianças pequenas (mesmo as de boas intenções) devem ficar todas no balaio da porcaria (e olha que como resolvedor de provas sou excelente, pois fui muito bem criado nesse sistema).

O colégio gosta é de aplicar os testes da psicogênese. Não que seja errado. Acho interessante o professor fazer isso. Quem me contou foi o próprio Gustavo. Mas acho que já é uma preocupação com a Provinha Brasil, que a escola não deveria se preocupar, pois deveria ser tudo espontâneo, já que ninguém vai cobrar metas e a síndrome de burnout não existe.

E quanto a cobrar ortografia, por favor, cunhadinho, você é o entendido do assunto. Ortografia? A própria palavra é preconceituosa. Traz a noção do certo e errado. Olha isso: "35% das crianças estão saindo da fase de alfabetização sem reconhecer os elementos mínimos da ortografia". O que diabos tem a ver alfabetização com ortografia? Deixa pra lá, isso é com você e eu sei o tanto que você adora ortografia, talvez mais que eu as provas. :D

Não adianta tentar mudar a visão da escola. É a visão da sociedade. Na reunião com os professores, os pais exigem provas, mais deveres de casa e letra cursiva (além das orações no início de cada aula e antes do lanche, os momentos mais importantes da aula). O MEC mal sabe o que acontece na escolas da UF em que ele tem sede. Imagina no interior do país.

Eu não tenho muito problema com letra cursiva. O Gustavo até está aprendendo bem rápido. Ele tem um vocabulário enorme e, mesmo que não soubesse escrever (e ele sabe escrever um monte em letras de forma), já seria mais alfabetizado que muita gente por aí que escreve. Ele podia estar aprendendo outras coisas agora, mas letra cursiva é bom para treinar desenho e coordenação motora. A sua visão será crítica quanto a isso. Já é crítica quanto as orações, quanto às provas... :D. Eu fico pensando é nas outras crianças que os professores concluem que tem "dificuldades". Têm crianças lá que, quando você observa na hora do intervalo, são perfeitamente normais. São crianças! Mas, quando vem a reunião com os pais, você vê os professores assim: fulano, seu filho ainda está na fase pré-silábica, mas está evoluindo bem, está certo para a idade, mas vou ter que dar uma puxadinha nele. É muito intessante isso tudo. A gente vê tentativas de mudanças (antigamente era muito pior, eu sei, o professor já chegava e chamava de burro), mas as mudanças giram em torno de um mesmo centro de gravidade.

Esse é um fenômeno no DF. A Lili, com os projetos da Pedagogia em que ela se envolve, vê coisas inacreditáveis nas escolas.

Mas, e aí? No final, não entendi. Tem ou não tem letra cursiva na Provinha Brasil? Em outras palavras, é espontâneo, tudo bonito e talz, mas eles avaliam quem escreve com letra cursiva ou não? Quem espontaneamente responder com letra cursiva terá um desempenho melhor? Se sim, infelizmente a escola está certa, em consonância com as metas. Ensina letra cursiva aos alunos, de forma "gradual" e "tranqüila", pois seu papel é acompanhar os parâmetros avaliados pelo MEC. Afinal, a alfabetização que o MEC avalia, infelizmente, não brota ou nasce espontaneamente na criança. É construída com interferência do professor. Se não, então a letra cursiva é perda de tempo.

Outras dúvidas, a Provinha Brasil possui tempo máximo para ser realizada ou ela pode ser realizada no tempo da criança? Por que o nome "Provinha", já que deve ser respondida natural e espontaneamente? Provinha é porque é pequena ou é para deixar delicada para as crianças? Ela prova o que?

Um abraço,
Ricardo

Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: [Alfabetização, Letramento e ...

Obrigado, Tamar!
Abraços.
Dioney
----- Original Message -----
Sent: Monday, June 30, 2008 11:18 AM
Subject: Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: [Alfabetização, Letramento e ...


Dioney,
Só vou estar novamente na Regional na quarta-feira, daí a até o final da semana eu te dou um retorno.

Um abraço

Tamar


Sent: Monday, June 30, 2008 12:23 AM
To:
Subject: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: [Alfabetização, Letramento e ...


Olá, Tamar!
Não é intromissão não. Publiquei a discussão de propósito para ouvir outras pessoas. Ficarei muito grato se puder conferir essa história de letra cursiva!
Abraços.
Dioney

Fw: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: [Alfabetização, Letramento e ...

Meus queridos,
A discussão está ganhando ares muito legais. Agradeço a contribuição da Ana, que é magnífica, e a da Tamar, que está se mostrando bastante empenhada.
Meu cordial abraço a todos!
Dioney

p.s.: Cunhadinho querido, você tem total liberdade para responder a todos os membros dessa lista, pois é pai-educador e um pensador-acadêmico também. Suas angústias são muito bem-vindas.

----- Original Message -----
From: Ana Dilma
To: Dioney
Sent: Monday, June 30, 2008 9:22 AM
Subject: Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: [Alfabetização, Letramento e ...


Dioney, é maravilhoso ampliar nossos múltiplos letramentos a partir de interações tão produtivas! Você está conseguindo isso, meu amigo! Patrícia Nunes falou em otimismo e eu ratifico as palavras dela. Acredito na educação de qualidade, no empenho dos educadores em fazer o melhor e penso que a formação continuada é importantíssima para que nossas concepções sejam ampliadas, especialmente no que diz respeito ao processo de alfabetização e letramento. Para contribuir com o esclarecimento sobre a questão da letra cursiva, passo a palavra ao competente grupo do Ceale - Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da UFMG do qual Magda Soares faz parte. O 1º fascículo do Programa Pró-Letramento - Capacidades Lingüísticas para alfabetização - discute sobre a apropriação do sistema de escrita (p.23). Sugiro a leitura dos tópicos (p.29 a 31): 'Compreender a categorização gráfica e funcional das letras' e 'Conhecer e utilizar diferentes tipos de letra (de forma e cursiva) para uma compreensão imediata dessa questão. Mas, como pesquisadora da área de Alfabetização,Letramento e Formação de Professores, considero a leitura dos fascículos do Pró-Letramento obrigatória para todos que trabalham na perspectiva da educação (sócio)lingüística. É isso aí!
Beijos!
Ana

Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos p...

Olá, Tamar!
Não é intromissão não. Publiquei a discussão de propósito para ouvir outras pessoas. Ficarei muito grato se puder conferir essa história de letra cursiva!
Abraços.
Dioney
----- Original Message -----
From: Tamar
To: Dioney
Sent: Sunday, June 29, 2008 8:34 PM
Subject: Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos p...


Ah...
Descupe a intromissão, mas como o e-mail chegou pra mim, eu o estou respondendo...rs..rs
Tem mais um detalhe. Essa avaliação não foi feita de forma aleatória, nem arbitrária, tem todo um material de orientação de trabalho, inclusive eu tive acesso ao material, posso conferir essa história de letrinha cursiva, se for o caso..
Tamar



From: Tamar
Sent: Sunday, June 29, 2008 8:26 PM
To: Dioney
Subject: Re: [Alfabetização, Letramento e Transformação] Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos p...


Caro Cunhado do Dioney...

Segundo os entendidos no assunto, o objetivo da Provinha Brasil é a análise dos problemas de leitura e interpretação da criança, ou seja, descbrir o nível de alfabetização em que a criança se encontra. para que esta não chegue lá na quinta série com sérios problemas de alfabetização. Uma vez que, segundo o último senso, 35% das crianças estão saindo da fase de alfabetização sem reconhecer os elementos mínimos da ortografia. Ainda segundo os tais entendidos, a provinha foi formulada dentro das habilidades e competências que a criança deve atingir nesse período, mas caso ela não tenha atingido o nível máximo, a escola deve trabalhar, com tranquilidade, durante os dois anos que faltam para o desenvolvimento pleno da alfabetização. Portanto, há um equívoco nessa história de letrinha cursiva e de caderno de caligrafia por vários motivos:

1º - a meta da escola, segundo o governo local, é que se aumente em 20% o rendimento da escola com relação ao senso do ano anterior e diminua o índice de evasão escolar em 35%;
2º - a Provinha Brasil é um instrumento utilizado pelo MEC e não tem uma vinculação direta e irrestrita com as metas locais. elencadas acima;
3º - o professor não deve treinar a criança para responder a Provinha Brasil, ela deve ser uma resposta expontânea da criança para que, posteriormente, se trabalhe os problemas encontrados.

Sendo assim, não entendi essa neura com letrinha cursiva, pois se o objetivo e perceber o nível das crianças, a professora deveria deixar para trabalhar isso de forma natural e não forçada, pois isso prode provocar a bendita evasão que o governo tanto quer evitar...

Converse com a escola do seu filhos, alguma coisa não foi bem interpretada a esse respeito.

Tamar

domingo, 29 de junho de 2008

Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos professores

Meu querido cunhadinho,
Concordo plenamente com você. Que história é essa de letra cursiva? Absurdo exigir algo assim em tempos de democracia com respeito à letra a ser usada em textos formais!!! As avaliações precisam ser revistas sim para dar conta de conhecimento não-formal também.
Se quiser, vou pessoalmente falar com essa professora!
Grande abraço e beijo no Gugu, meu sobrinho fofo, lindo e inteligente!
Dioney

----- Original Message -----
From: Ricardo Tadeu
To: Dioney
Sent: Sunday, June 29, 2008 4:28 PM
Subject: Re: Fw: Síndrome atinge 15% dos professores


Pois é véi!

E com as metas do governo com essas provas desgraçadas que ele aplica para a educação fundamental a coisa fica cada vez pior. A secretaria de educação pressiona os diretores pela meta a conquistar na próxima avaliação. O diretor pressiona o professor. E este tenta fazer mágica pressionando os alunos para obter mais e mais notas em prova.

Um exemplo, na primeira série não existe prova. O Gustavo não faz prova. Mas, na segunda série já existe a tal da Provinha Brasil. E o pior. Segundo a professora, a letra cursiva é exigida! Assim, eles já estão sendo preparados na primeira série a entrar no mundo tecnicista das provas. Eles fazem alguns simulados de prova. E a professora exige caderno de caligrafia para a criança praticar em casa. Ela passa a responsabilidade para os pais. Nós já falamos pra ela que não temos o menor interesse em ensinar letra cursiva ao Gustavo. Apenas é interessante do ponto de vista motor e do fato de conhecer uma nova grafia. Mas isso não justifica a pressa. Mas ela está com pressa. A Provinha Brasil irá avaliar a escola. O diretor pressiona, ela pressiona. Ela vai explodir, as crianças vão explodir. Se não fosse essa merda de prova, o Gustavo poderia estar estudando coisas mais úteis no horário da caligrafia, como inglês ou astronomia. Não vejo o menor fundamento para provas na educação inicial. As provas deveriam começar a aparecer mais tarde, por volta da sexta série. Mas se o governo utiliza prova em suas avaliações de 1ª a 4ª série, pois é mais barato (poderia pagar observadores que acompanhariam as turmas durante alguns meses), vamos fazer o que? E o professor vai continuar explodindo. Tem aluno que sabe um quilo de coisas mais ainda não sabe ler direito. Isso na quarta série. Assim, a prova o avalia com pouco desempenho, já que ele não entende o enunciado das provas. Às vezes, o enunciado não se faz inteligível na língua própria dele. Esse é outro problema. Mas o moleque solta pipa e constrói carrinho de rolimã. Então ele conhece um monte de coisa de fĩsica sem saber. Claro que nem tudo no MEC é merda. Muito das metas abusivas que existiam lá nos tempos de FHC foram abolidas e passaram a entrar outros programas, inclusive de orientação para professores. Mas as provas continuam e com letra cursiva!? Será que essa professora está certa?

[]s

Ricardo


FONTE: www.unb.br (acesso:18/06/08)

Síndrome atinge 15% dos professores

Pesquisa da UnB com 8,7 mil docentes revela alta incidência
de burnout, que pode comprometer ensino

Uma pesquisa feita com mais de 8 mil professores da educação básica da rede pública na região Centro-Oeste do Brasil revelou que 15,7% dos entrevistados apresentam a síndrome de burnout, que reflete intenso sofrimento causado por estresse laboral crônico. A enfermidade acomete principalmente profissionais idealistas e com altas expectativas em relação aos resultados do seu trabalho. Na impossibilidade de alcançá-los, acabam decepcionados consigo mesmos e com a carreira.

O estudo confirma a vulnerabilidade do docente à síndrome, pois o excesso de exigências auto-impostas, associadas a condições precárias de trabalho, bem como à falta de retribuição afetiva, expõem o profissional a um desgaste permanente. Assim, a tensão gerada entre o desejo de realizar um trabalho idealizado e a impossibilidade de concretizá-lo acaba por levar o profissional a um estado de desistência simbólica do ofício.

Essa condição, mostrada em pesquisas anteriores, é confirmada por um estudo realizado pela psicóloga Nádia Maria Beserra Leite. Ela analisou 8.744 questionários, respondidos por professores de ensino fundamental e médio, como parte do seu mestrado no Instituto de psicologia (IP) da Universidade de Brasília (UnB), sob orientação do professor Wanderley Codo.

Nádia é cautelosa quanto à generalização dos resultados, mas considera os dados preocupantes. "Obter 15,7% num universo de 8 mil não é desprezível", afirma. Caso o índice seja o mesmo em todo o País, por exemplo, então mais de 300 mil professores brasileiros convivem com a síndrome, isso somente no ensino básico. Entre outras conseqüências, tal cenário levaria a um sério comprometimento na educação de milhões de alunos.

Os dados vieram à tona com informações obtidas por um questionário que permite identificar a incidência dos três sintomas que caracterizam a síndrome: exaustão emocional, baixa realização profissional e despersonalização. Com relação ao primeiro sintoma, 29,8% dos professores pesquisados apresentaram exaustão emocional em nível considerado crítico. Quanto à baixa realização profissional, a incidência foi de 31,2%, enquanto 14% evidenciaram altos níveis de despersonalização.

SUSCETIBILIDADE – A síndrome de burnout pode afetar qualquer profissional. Porém, é mais comum em pessoas que desenvolvem atividades de constante contato humano, principalmente aquelas que favorecem o envolvimento emocional. Nesse grupo estão, por exemplo, médicos, enfermeiros e professores, profissões que lidam com ideais ambiciosos e situações que nem sempre podem ser resolvidas por eles próprios, seja manter alguém vivo ou promover transformações sociais.

Os problemas surgem à medida que esses objetivos não se concretizam. "É como aquela professora que pensa em contribuir para mudar a vida dos estudantes, muitas vezes reproduzindo a dedicação que teria com os próprios filhos, mas não se sente retribuída", explica Nádia. Também se enquadra nesse perfil o professor que espera dos alunos um ótimo aprendizado do conteúdo por ele transmitido em sala de aula. Esforça-se para isso e o eventual desinteresse ou baixo rendimento dos alunos é percebido por ele como um fracasso pessoal. "Então, vem o desânimo e o cansaço", diz a pesquisadora.

SINTOMAS – De acordo com Nádia, o primeiro sinal de instalação da síndrome é a exaustão emocional. Afetivamente, significa que o docente não consegue mais se doar. "Ele percebe o esgotamento da energia e dos recursos emocionais." Quando não consegue lidar com essa sensação, desenvolve mecanismos reativos. Como alternativa ao sofrimento, acaba por se distanciar emocionalmente, tanto do seu trabalho quanto do próprio aluno. O distanciamento do trabalho, ou baixa realização profissional, caracteriza-se pela falta de envolvimento pessoal e pela indiferença aos assuntos da sua profissão, além de uma assumida sensação de ineficácia contra a qual não tem ânimo para lutar. O distanciamento do aluno, ou despersonalização, aparece na forma de endurecimento afetivo e falta de empatia.

Para a pesquisadora, a despersonalização é a face mais perversa do burnout, pois afeta justamente aquele que deveria ser objeto de atenção e cuidado. Nádia exemplifica a situação citando docentes que se referem às turmas como "aqueles pestinhas", ou que, na hora do cafezinho, tudo o que conseguem fazer é reclamar dos alunos. Qualquer referência aos estudantes será sempre negativa.

CONSEQUENCIAS – De acordo com a psicóloga, estudos vêm mostrando que professores com o problema tendem a adoecer mais, faltar ao trabalho e se tornar menos criativos. Em sala de aula, há grandes chances de piorar a relação professor-aluno. Uma relação de hostilidade entre os dois lados acabará comprometendo a aprendizagem.

Segundo Nádia, a presença do burnout em professores da educação básica levanta preocupações. "Esse período escolar acompanha uma fase essencial da formação do indivíduo. É quando a relação aluno-professor é mais necessária para a aprendizagem e o desenvolvimento integral do educando", afirma. Já os estudantes universitários são mais independentes da figura do docente.

APOIO – O estudo analisou formas de minimizar a síndrome e descobriu ser fundamental o companheirismo e a cooperação no ambiente de trabalho. Os professores que disseram ter apoio dos demais docentes apresentaram os menores níveis de exaustão emocional, despersonalização e de baixa realização profissional. A freqüência de exaustão entre indivíduos sem suporte é quase o dobro da verificada em professores que percebem estar apoiados pelos seus pares. Quanto à despersonalização e à realização profissional reduzida, os dados seguem a mesma tendência: a incidência desses sintomas é três vezes maior entre os docentes que não se sentem apoiados pelos colegas.

SOLUÇÕES – Segundo Nádia, os resultados do estudo serão úteis em estratégias de enfrentamento da síndrome. Ela considera que medidas simples podem contribuir para minimizar o sofrimento. "O mérito desse trabalho é ter mostrado, de forma científica, que é muito mais difícil enfrentar de forma solitária os estressores que levam a burnout", diz a psicóloga. "Encontramos evidências de que o suporte social no trabalho, que favoreça a construção coletiva de estratégias de enfrentamento dos problemas típicos da profissão, é uma maneira efetiva de reduzir as estatísticas da síndrome."

Nádia afirma, ainda, que esse recurso tem o mérito de ser acessível aos professores, pois depende da vontade do grupo. Atividades que estimulem a aproximação entre professores podem contribuir para evitar a tendência a expectativas profissionais inalcançáveis, substituindo-as por metas realistas e discutidas coletivamente. Mesmo a ausência de condições de trabalho adequadas pode ser minimizada pela busca em grupo de soluções criativas, deixando de ser apenas uma queixa isolada. "É muito importante a sensação de ser acolhido por pessoas que enfrentam os mesmos problemas, seja na busca por mudanças ou para conviver com o que é impossível mudar", diz.

Família potencializa síndrome

O eterno conflito entre trabalho e família é o principal elemento para desencadear a síndrome, revela a pesquisa. Isso acontece quando o professor se dedica mais do que poderia para a escola, reduzindo o tempo destinado à esposa (ou marido) e filhos, ou vice-versa. Do total de entrevistados com exaustão emocional alta, 74% indicaram vivenciar problemas para conciliar o tempo e a atenção que dedicam a essas duas instâncias tão importantes da sua vida.

Nádia destaca que esse resultado é uma indicação de quanto o trabalho docente tende a invadir o tempo que deveria ser dedicado ao lazer e aos cuidados com a família. Da maneira como o trabalho está estruturado na maioria das instituições, não há tempo, dentro da carga horária prevista, para que sejam realizadas atividades como preparar aulas, pesquisar materiais, bem como corrigir provas e trabalhos, tarefas que são levadas pra casa. Quando não consegue equacionar o problema, o professor passa a ser submetido a uma pressão em seu ambiente doméstico. Assim, já fragilizado pelos problemas que enfrenta no trabalho, fica mais exposto aos efeitos que levam a burnout.


CONTATO
Nádia Maria Beserra Leite pelo telefone 3447 5446 (empresa) e e-mail nadia@cpd.com.br.

Felicidade momentânea também vale!

Meus queridos,
Nem só de educação vive o seu amigo Dioney. Escrevo para homenagear o Obina, hoje um pé-de-coelho do Mengão, que acabou de detonar o Sport na Ilha do Retiro...
Abraços e beijos rubro-negros!
Dioney
 
p.s.: Não se surpreendam quando Obina for contratado pelo Barcelona para substituir o craque Eto'o!!!:D

YouTube - Legião Urbana - Há tempos (ao vivo)

Uma música? Uma voz? Um retrato da juventude perdida, dos sonhos abandonados? Somos educadores, quer sejamos professores ou não...
 
http://www.youtube.com/watch?v=JqFCnPvBbh4

Bibliografia complementar para o fascículo 6

ALFABETIZAÇÃO E LINGUAGEM / 2008
MÓDULO 2: Leitura, Interpretação e Produção de Textos no 3º e 4º Ciclos
Fascículo 6: Mudança Lingüística
Prof. Dr. Dioney M. Gomes

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ALI, M. S. Gramática secundária e gramática histórica da língua portuguesa. Brasília: Editora UnB, 2001.
BAGNO, M. Língua de Eulália. São Paulo: Contexto, 2000.
________. Português ou Brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola Editorial, 2001.
BAXTER, A. N. & LUCCHESI, D. “A relevância dos processos de pidginização e crioulização na formação da língua portuguesa no Brasil.” Estudos lingüísticos e literários, 1997.
CAMARA JR., J. M. História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, 1979.
CASTILHO, A. (org.). Para a história do português brasileiro. São Paulo: Humanitas, 1998.
CHRISTIANO, M. E. A; SILVA, R. S.; HORA, D. (orgs.). Funcionalismo e gramaticalização: teoria, análise, ensino. João Pessoa: Idéia, 2004.
COUTINHO, I. de L. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Acadêmica, 1973.
COUTO, H. H. Introdução ao estudo das línguas crioulas e pidgins. Brasília: EdUnB, 1996.
CRYSTAL, D. Dicionário de lingüística geral e fonética. Rio de Janeiro: Zahar Editor, 1988.
CUNHA, A. G. Dicionário histórico das palavras portuguesas de origem Tupi. Brasília: EdUnB, 1998.
DUBOIS, J. et alii. Dicionário de lingüística. São Paulo: Cultrix, 1993.
FIORIN, J. L. (org.). Introdução à lingüística (vols.1 e 2). 5. ed. São Paulo: Contexto, 2006.
GNERRE, M. Linguagem, escrita e poder. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
GIVÓN, T. Syntax: a Functional-Typological Introduction. Vol. I e II. Amsterdam/Philadelphia: JBPC, 2001.
GOMES, D. M. “O vôo da Asa Branca: uma reflexão sobre a Lingüística e o Ensino
de Língua Portuguesa”. Disponível em: http://www.ftb.br/escritosterra/artigos.htm.
ILARI, R. Lingüística românica. São Paulo: Ática, 1997.
MARQUILHAS, R. “Mudança lingüística.” In: FARIA, I. H. et alii (org.). Introdução à linguística geral e portuguesa. Portugal: Caminho, 1996.
MARTINS, N. S. História da língua portuguesa: século XIX. São Paulo: Ática, 1988.
MATTOS E SILVA, R. V. O português arcaico: morfologia e sintaxe. São Paulo: Contexto, 1993.
__________. Diversidade lingüística brasileira e ensino de português: proposições comentadas. Revista Internacional de Língua Portuguesa. Lisboa, 1989.
__________. Português brasileiro: raízes e trajetórias. Ciência Hoje, vol 15/n.º 86. Nov/dez,1992.
__________. “O português são dois...” Novas fronteiras, velhos problemas. São Paulo: Parábola, 2004.
MUSSALIM, F. & BENTES, A. C. Introdução à lingüística. (vols. 1 e 2). São Paulo: Cortez, 2001.
NARO, A. J. & SCHERRE, M. M. P. Origens do Português Brasileiro. São Paulo: Parábola, 2007.
PAIVA, D. de F. História da língua portuguesa: século XV e meados do século XVI. São Paulo: Ática, 1988.
PINTO, E. P. História da língua portuguesa: século XX. São Paulo: Ática, 1988.
PINTO, R. M. História da língua portuguesa: século XVIII. São Paulo: Ática, 1988.
RODRIGUES, A. D. As línguas gerais sul-americanas. PAPIA 4(2).6-18 (1996).
__________. As outras línguas da colonização do Brasil. UnB, s/d.
RODRIGUES, J. H. A vitória da língua portuguesa no Brasil Colonial. Humanidades, vol. 1 n.º 4. Julho/setembro, 1983.
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SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2003.
__________. Linguagem e Escola. Uma perspectiva social. São Paulo: Ática, 1993.
SPINA, S. História da língua portuguesa: século XV e meados do século XVI. São Paulo: Ática, 1988.
TARALLO, F. Tempos lingüísticos - itinerário histórico da língua portuguesa. São Paulo: Ática, 1990.
TEYSSIER, P. História da língua portuguesa. São Paulo: Martins Fontes, 1980.
__________. Le portugais dans sa diversité. Actes du Colloque, Maison du Portugal, 1999.
VASCONCELOS, M. M. A. de. Da história interna das línguas latinas. São Mateus: Expresso, 2000.
VILLAR, F. Lenguas y pueblos indoeuropeos. Madrid: Istmo, 1971.
WILLIAMS, E. B. Do latim ao português. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1972.

"nóis mudemo"?

Quando mudaremos o jeito antigo de ensinar? Quando faremos a diferença na educação de nossos alunos? Quando ensinaremos o que realmente pode abrir caminhos e não fechá-los?
...

ALFABETIZAÇÃO e LINGUAGEM / 2008
MÓDULO 2: Leitura, Interpretação e Produção de Textos no 3º e 4º Ciclos
Fascículo 6: Mudança Lingüística
Prof. Dr. Dioney M. Gomes
Texto-base da aula de 27/06/2008

"NÓIS MUDEMO"
O ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasília rumo a Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luazona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo.
Mas minha alma estava profundamente amargurada. O encontro daquela tarde, a visão daquele jovem marcado pelo sofrimento, precocemente envelhecido, a crua recordação de um episódio que parecia tão banal... Tentei dormir. Inútil. Meus olhos percorriam a paisagem enluarada, mas ela nada mais era para mim que o pano de fundo de um drama estúpido e trágico.
As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
- Por que você faltou esses dias todos?
- É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.
Risadinhas da turma.
- Não se diz "nóis mudemo", menino! A gente deve dizer: "nós mudamos", tá?
-Tá, fessora!
No recreio, as chacotas dos colegas: "Oi, nóis mudemo!" "Até amanhã, nóis mudemo!" No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações.
- Pai, não vô mais pra escola!
- Oxente! Modi quê?
Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:
- Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da meninada! Logo eles esquece.
Não esqueceram.
Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio - Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapazola tinha partido no dia anterior para a casa de um tio, no sul do Pará.
- É, professora, meu fio não aguentou as gozação da meninada. Eu tentei fazê ele continua, mas não teve jeito. Ele tava chateado demais. Bosta de vida! Eu devia di té ficado na fazenda côa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado.
Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer, engoli em seco e me despedi.
O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte.
Uma tarde, num povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia.
- O que é, moço?
- A senhora não se lembra de mim, fessora?
Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstituí num momento meus longos anos de sacerdócio, digo, de magistério. Tudo escuro.
- Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama?
Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
- Eu sou "Nóis mudemo”, lembra?
Comecei a tremer.
- Sim, moço. Agora lembro. Como era mesmo seu nome?
- Lúcio - Lúcio Rodrigues Barbosa.
- O que aconteceu com você?
- O que aconteceu? Ah! fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o pão que o diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro, fui bóia-fria, um "gato" me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando consegui fugi. Peguei tudo quanto é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante às veis fais coisa sem querê fazé. A escola fais uma farta danada. Eu não devia de té saído daquele jeito, fessora, mas não aguentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui fala direito. Ainda hoje não sei.
- Meu Deus!
Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz, que me olhava atarantado.
O ônibus buzinou com insistência. O rapaz afastou-me de mim suavemente.
- Chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
- Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!
Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.
Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos, mudamos, mudaamoos, mudaaamooos... Superusada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna - a língua que a criança aprendeu com seus pais, irmãos e colegas - e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.
E os lúcios da vida, os milhares de lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: "Não é assim que se diz, menino!" Como se o professor quisesse dizer: "Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra! E siga desarmado pelo matadouro da vida..." (Fidêncio Bogo)